Versátil, as cordas podem ser usadas para as mais variadas
tarefas: prender, puxar, sustentar objetos e até mesmo fazer parte de
brincadeiras e exercícios. Afinal, quem não se lembra dos tempos de criança
quando a meninada se reunia para “bater corda” durante horas seguidas?
Ideal para a melhora da capacidade cardiovascular e para a
perda de peso, pular cordas é um dos exercícios mais usados no treinamento de
diversos atletas, em especial aqueles que praticam lutas como boxe e MMA.
Treino com cordas: mania nacional
Além desta modalidade lúdica, o treino com cordas agora
adquire uma nova cara e cada vez mais adeptos: é o rope training. O personal
trainer, especialista em treinamento funcional e em Kettlebell training, Marcio
Fontana, da MR Fitness at home, da capital paulista, diz que esta modalidade de
treinamento com cordas é bastante recente no Brasil, embora já seja bastante
popular nos EUA. “O rope training tem sido muito difundido no nosso país, em
especial pela turma do MMA, que tem usado muito. A procura tem aumentado muito
em especial por ser um tipo de treinamento muito simples: com pouco
investimento e pouco espaço, consegue-se condicionamentos físico e cardíaco
muito bons”.
Treinamento com corda é uma das opções de exercício
funcional
Cauê La Scala Teixeira, docente convidado de programas de
extensão universitária e pós-graduação de faculdades como Unisanta, FMU, UGF e
Instituto Enaf, de Santos (SP), conta que o treino com corda é apenas uma
opção, dentre tantas, que o treinamento funcional oferece e embora esteja
chegando ao Brasil agora, dificilmente veremos espaços destinados
exclusivamente a esse tipo de treinamento. “Ainda há poucos espaços que
exploram esse tipo de equipamento no Brasil, mas a tendência é que academias e
clubes esportivos invistam em novos equipamentos no intuito de oferecer
metodologias de treino funcional diferenciadas, que vão de encontro aos
interesses e necessidades dos alunos”, opina.
Profissional de Educação física deve se especializar em
treinamento com cordas
Para poder trabalhar com esse tipo de acessório, Fontana
recomenda que o profissional de Educação Física busque se especializar, visto
que é preciso respeitar algumas técnicas para não colocar em risco a segurança
dos alunos. Todavia, Teixeira destaca que não conhece nenhum curso de
capacitação específico sobre o treinamento com cordas e, na literatura
científica, poucas publicações exploram o tema.
Rope Training: treinamento com cordas
Teixeira conta que esta modalidade de treinamento é bastante
atraente pelo perfil dinâmico e motivador e explica como funciona um rope
training: “os exercícios, em sua maioria, são baseados em movimentos rápidos
dos membros superiores que promovem ondulações que são propagadas através da
corda. Essas ondulações desafiam o equilíbrio corporal, o que tende a estimular
a ativação de diversos músculos do corpo todo. Geralmente, trabalha-se com duas
cordas. Uma das extremidades delas fica fixa em algum local e as outras são
seguras, uma com cada braço. Trabalha-se com movimentos alternados ou
simultâneos dos braços em múltiplas direções, gerando ondulações que são
propagadas pela corda”.
A corda utilizada pode ser a naval ou de sisal e, segundo os
profissionais ouvidos, ela pode ter três tamanhos básicos: 9, 12 ou 15 m, com
espessura que varia de 1,5 a duas polegadas, variando o tamanho de acordo com o
condicionamento do aluno. As cordas de nylon não costumam ser usadas porque são
mais leves e faz com que os movimentos saiam descoordenados.
Treino com cordas: o tipo de acessórios ideal
Em Salvador (BA), o personal trainer Felipe Macena,
sócio-fundador da academia Semeare, trabalha com treinos funcionais há cinco
anos e, desde o princípio, usa as cordas em seus treinos e costuma usar as mais
finas para as mulheres, “porque quanto maior e mais grossa for a corda, mais
pesado é o exercício”, e explica que a velocidade dos movimentos influencia na
perda de peso: “os movimentos curtos com o braço, feitos de cima para baixo na
vertical, geram maior aceleração na corda e, consequentemente, maior frequência
cardíaca, maior gasto energético e perda de peso”.
Mulheres aderem ao treinamento com cordas
Apesar de ser muito usado por praticantes de luta, o treino
com cordas tem conquistado um público bastante variado, com homens e mulheres
de faixas etárias diferentes. “Por incrível que pareça, as mulheres acima dos
35 anos são as que mais procuram esse tipo de treinamento, que trabalha muito
com a musculatura do ombro, do antebraço e o braço radial”, comenta Macena.
“Tenho observado que o treino com cordas tem atraído cada
vez mais pessoas que buscam um treinamento diferente daquele oferecido pelas
academias. Gente que quer alternativas, treinar ao ar livre”, aponta Fontana.
Treino com cordas: mudanças metabólicas
Dentre as principais transformações metabólicas sentidas
pelos praticantes do treino com corda, Macena cita a melhora das capacidades
aeróbia e anaeróbia, perda de massa gorda e, “por que não dizer? Na estrutural
temos o aumento da força de pressão manual”. Cauê La Scala Teixeira complementa
que os resultados são específicos ao modo de uso do equipamento e, em uma
análise prática, geralmente esse tipo de exercício é bastante interessante para
o emagrecimento.
Com poucas contraindicações, o treino com cordas pode ser
praticado por muita gente, mas caso a opção seja por pular o acessório, Marcio
Fontana destaca que deve-se então investigar se há problemas articulares, uma
vez que essa modalidade conta com impacto nas articulações. Para quem prefere o
rope training, Macena destaca que os cuidados especiais devem ser adotados com
os hipertensos, diabéticos e portadores de doenças cardíacas: “por mexer muito
com a capacidade cardiovascular, pode ser perigoso pra essas pessoas treinarem
com corda”, afirma. Teixeira orienta ainda atenção especial com idosos,
crianças, pois as cordas costumam ser pesadas, e pessoas com restrições
músculo-esqueléticas, principalmente nos membros superiores.
Diferente do pular cordas, que trabalha fortemente os
membros inferiores, no rope training são os membros superiores que são mais
exigidos, já que a corda é presa em uma extremidade e o aluno deve movimentá-la
criando ondas em diferentes direções para realizar o exercício. “Trabalha-se
muito com a cintura escapular, dorsal, bíceps, mas o bacana é que esse não é um
treino de músculo isolado, mas sim de músculos integrados. Pra gerar o
movimento de onda na corda é preciso usar vários grupos musculares ao mesmo
tempo”, conta Fontana, que teve alunos que responderam aos exercícios após dois
meses de treino com cordas duas vezes por semana.
Periodização no treinamento com cordas
Assim como em outras modalidades, a periodização existe no
treinamento de corda, já que é preciso determinar qual a intensidade e volume
dos exercícios praticados. “Normalmente o treino é regulado pela frequência
cardíaca e pelo tempo, dependendo do objetivo de cada periodização. Por
segmento corporal não regulamos o treino porque esse treinamento exige do corpo
de forma integrada”, orienta o profissional da MR Fitness at Home.
O treino com cordas pode ser trabalhado também de formas
variadas. Em Salvador, Macena usa o rope training como complemento do treino e
em algumas aulas. “Também colocamos dois alunos para treinarem juntos, como se
fosse uma competição pra ver quem não deixa de mexer a corda”, brinca, “a corda
entra no contexto da aula e em variações de exercícios, com um acessório só,
segurando com uma única mão, com movimentos conjugados etc”.
Incorporado a qualquer rotina de treinamentos, o rope
training é comumente encontrado no treinamento funcional ou complementando
outro treinamento. Mas também pode ser treinado por si só. “Uso muito associado
a outras ferramentas para potencializar o treino dos meus alunos”, conta
Fontana.
Felipe Macena recomenda que os profissionais de Educação
Física que pretendem usar o treino com corda em seus estabelecimentos pensem
bastante antes de prescrever as atividades aos alunos: “bato muito na tecla de
que muita gente entra na moda e não sabe se ela cabe praquele indivíduo. Não é
porque todo mundo está fazendo que vai ser bom pro cliente, é preciso ter
discernimento”.
Dentre os principais erros encontrados pelos profissionais
na prática do treino com cordas, a postura errada é a mais comum: “se fizer o
movimento de forma arqueada, vai gerar pressão na lombar. O movimento de
ondulação da corda precisa de força do braço e essa força tem que ser dividida
com o quadril. Se fizer a força só no braço, sem essa distribuição, vai forçar
o quadril e ter muita dor no dia seguinte”, orienta Fontana.
Fonte: Portal EF